“A Casa do Rio Vermelho foi juntando toda família em uma casa de amigos de toda parte do mundo.” Paloma Jorge Amado
“O corpo negro chega primeiro como marginal, como delinquente, aquele que não tem valor. Você tem que provar antes o que você é, para depois contar uma história.“ Tom Farias
Por Maria Luisa Rabello
A mesa carregada de afeto e familiaridade, composta por três grandes autores que se chamam carinhosamente de “primos ramados”, estes são os sentimentos que nortearam o encontro de Paloma Jorge Amado, Tom Farias e Ricardo Ramos Filho, no Flipetrópolis. Paloma inicia, em uma breve genealogia familiar, a história de sua família, que é também família de Ricardo, vindas dos autores Jorge Amado – pai de Paloma – e Graciliano Ramos –avô de Ricardo. Tom, por sua vez, ao conhecer Paloma, entrou para a família ao chamá-la de sogra e, por fim, sua esposa Joana é considerada por ela como uma filha.
Paloma e Ricardo contam suas histórias de infância na casa em que cresceram, a casa do Rio Vermelho, em Salvador-BA. A casa torno-se o Museu do Rio Vermelho, um importante memorial que conta a história de Zélia Gatai e Jorge Amado, depois de uma luta de 11 anos por parte da família para a aprovação do projeto. Uma casa de amor e amizade, por onde passou muita gente, segundo Paloma, que lembra com carinho das “domingueiras” na casa de seus pais, que sempre recepcionaram seus convidados com acarajés e muito sorvete.
Tom Farias contou com muita admiração sua ligação com Paloma e Ricardo. Fala de seu livro “Toda fúria” (2023), que, ao contar a história da personagem Caniço, conta também um pouco da história dos jovens sugados pela marginalidade. O autor é um dos seis curadores do Flipetrópolis e relatou a importância de se pensarem as falhas do Estado corrupto, em que o poder deturpa toda uma geração, salientando a importância da humanização desses jovens retratada em sua obra.

Seguindo com sua fala, Tom divide com o público a obra “Carolina: uma biografia” (2019), em que é apresentada a complexa e comovente trajetória da escritora Carolina Maria de Jesus. Carolina migrou de Minas Gerais para São Paulo em 1937, vivendo em situação de rua como catadora de lixo. O autor afirma: “a gente olha muitas carolinas e não dá a menor bola, o Caniço poderia ser uma dessas pessoas geniais, criativas, que, se puxassem pelo dedinho, dando uma oportunidade qualquer, poderia mostrar o valor dela”.
A discussão tece importantes alertas sobre tragédias, sobre a fome no Brasil e sobre inúmeros problemas políticos e sociais brasileiros que têm seu fundamento no racismo e na desigualdade. Tom fortifica a esperança e o respeito que escritores têm com as palavras e reitera a responsabilidade que se deve ter ao escrever: “você pode segurar a vida de uma pessoa, transformar a vida de alguém”.
No encerramento, por apelo da plateia, Paloma contou a história da visita de Roman Polanski à casa de seus pais, na Bahia. Polanski, ligou para Jorge Amado, após o lançamento de “Chinatown” (1974), pedindo para ir à sua casa para conversar com ele. Ao chegar, Polanski agradeceu Jorge Amado em nome da juventude polonesa, que teve contato com sua literatura, ensinando que existe um mundo para além do que eles podiam conhecer.
Sobre o Flipetrópolis
A primeira edição do Flipetrópolis foi viabilizada pela Prefeitura de Petrópolis, o patrocínio do Grupo Águas do Brasil e o apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Todas as atividades realizadas dentro do Flipetrópolis são gratuitas. Com a curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinetti e Leandro Garcia, acontece entre os dias 1.º e 5 de maio de 2024, no Palácio de Cristal.
Serviço:
Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis
De 1.º a 5 de maio de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Palácio de Cristal – R. Alfredo Pachá, s/n – Centro, Petrópolis / Programação Digital – YouTube, Instagram e Facebook – @flipetropolis
www.flipetropolis.com.br
Entrada gratuita