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O amor pelo lugar de origem e os caminhos da vida nas falas de Thiago Lacerda e Rodrigo Santos

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“Um dos grandes papéis da arte é investigar a nossa natureza.” Thiago Lacerda
“Meu campo de batalha é a literatura.” Rodrigo Santos

Por Maria Luisa Rabello

A mesa de conversa entre Thiago Lacerda, Rodrigo Santos e Ricardo Ramos Filho, que aconteceu no segundo dia do Festival Literário Internacional de Petrópolis,  levantou diversas questões, desde suas vidas e trajetórias até a importância da democracia e da educação literária na luta contra o fascismo e contra todo tipo de opressão.

Em uma amigável provocação, Ricardo propõe a questão “Como vai a vida?” aos autores convidados. A pergunta serviu para nortear a conversa, levando Rodrigo e Thiago a pensarem muito além do agora. Eles retomaram sua infância, falando do lugar onde cresceram e sua relação com os livros e a leitura, questão que tem se mostrado muito forte durante os encontros nessa primeira edição do Flipetrópolis.

O professor e escritor dos romances policiais “Macumba” (2019) e “Fogo nas encruzilhadas” (2022), Rodrigo Santos, divide com o público sua história como menino do subúrbio de Niterói-RJ, de família pobre que sonhava em ser escritor. “Enquanto o livro puder fazer um filho de pedreiro como eu virar escritor e vir para Petrópolis falar do meu livro, esses caras vão odiar.” Enquanto leitor, ele disse que sempre teve dificuldade de encontrar histórias que ele queria ler sobre seu território e sua realidade. 

Foto: @alnereis

Partindo da dificuldade de reconhecimento literário, essas duas obras, que fazem parte da mesma história, surgem quando Rodrigo decide criar uma narrativa que tenha identificação com a sua cidade e suas vivências. A personagem principal, um detetive evangélico negro, morador da periferia de Niterói, investiga mortes que acontecem em terreiros de Umbanda e Candomblé. Tendo olhar de racismo religioso, o detetive vai sendo colocado em algumas situações desafiadoras com outras personagens, que o fazem questionar seu entendimento sobre a religiosidade. 

Em resposta à provocação elaborada pelo mediador, Thiago Lacerda afirma que a vida vai bem. Ele nos conta um pouco sobre seu processo de encerramento de círculo com sua saída da TV que, para ele, tem acontecido naturalmente com o passar do tempo. Atualmente, o ator mantém sua atenção voltada para o estudo do espetáculo “Quem está aí?”, uma seleção de monólogos de obras de Shakespeare. Em uma fala descontraída, ele conta: “tenho umas 27 páginas pela frente para decorar”. A peça está rodando o Brasil em teatros de várias cidades. 

A ideia para a peça surgiu durante a pandemia quando estava imerso na leitura do filósofo francês Albert Camus, além de um levantamento da obra de Shakespeare, que durou 12 anos de intensa pesquisa e estudo.

Tijucano apaixonado pelo bairro em que cresceu, Thiago não teve uma infância conectada à literatura, já que o esporte tomou seu tempo enquanto criança. O apelo pela leitura foi surgir de forma mais concreta durante a juventude, relação a qual mantém com muito afinco até hoje.

Os autores trazem questões políticas e sociais brasileiras surgidas principalmente após a pandemia, como a importância e também os perigos da internet. Em conjunto, os três alertam o público sobre os momentos em que a democracia sofre ataques e se fragiliza, dando força a discursos de ódio perigosos. Segundo Thiago Lacerda, “precisamos estar atentos e fortes”, fazendo alusão a importante canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil, eternizada na voz de Gal Costa.

Durante o emocionante diálogo, a importância da educação e dos professores foi tratada de forma comovente, principalmente ao notarem que a plateia era formada por inúmeros professores. As palavras foram reconhecidas com uma salva de palmas, soando como uma forte faísca de esperança e reconhecimento.

Sobre o Flipetrópolis

A primeira edição do Flipetrópolis foi viabilizada pela Prefeitura de Petrópolis, o patrocínio do Grupo Águas do Brasil e o apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Todas as atividades realizadas dentro do Flipetrópolis são gratuitas. Com a curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinetti e Leandro Garcia, acontece entre os dias 1.º e 5 de maio de 2024, no Palácio de Cristal.

Serviço:

Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis
De 1.º a 5 de maio de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Palácio de Cristal – R. Alfredo Pachá, s/n – Centro, Petrópolis / Programação Digital – YouTube, Instagram e Facebook – @flipetropolis
www.flipetropolis.com.br
Entrada gratuita