“O Carnaval para o povo negro é drama, entrega e é a vida das pessoas. É muito mais do que a competição que a gente vê passar na televisão.” Aydano André Motta
“O maestro João Carlos Martins era indomóvel como artista e era indomável para ele mesmo.” Jamil Chade
Por Marcia Maria Cruz
Os jornalistas Jamil Chade e Aydano André Motta empregam as técnicas do jornalismo para contar a história da música. Eles participaram da mesa de abertura da programação adulta no terceiro dia do Festival Literário Internacional de Petrópolis no Palácio de Cristal, com a mediação da atriz Carla Camurati. Aydano apresentou o livro “Porta-bandeiras – Onze mulheres incríveis do Carnaval Carioca”. Jamil trouxe as histórias do maestro João Carlos Martins, reunidas no livro “O indomável”, que será lançado em breve.
Aydano revelou que, embora tenha nascido em Niterói, foi conhecer desfiles de escolas de samba já trabalhando como jornalista, a partir de então ele se fascinou com o universo que vem desde a escolha do samba-enredo, mas que não termina no desfile na Marquês de Sapucaí. Aydano trouxe como exemplo o samba-enredo “Marias, Mahins, Marielles”, que levou a Estação Primeira de Mangueira a vencer o Carnaval de 2019.
Os autores do samba-enredo, ao incluirem o terceiro “m” , o nome de Marielle, o samba-enredo mudou a direção. “Empoderou a Escola de maneira imbatível e ela foi campeã”. A coleção Cadernos de Samba conta a história das escolas de samba no Rio de Janeiro. Aydano interessou em contar a história das porta-bandeiras pelo fascínio que tem por elas, que são avaliadas em um quesito à parte e levam a bandeira da escola. Dançam ao longo de todo o desfile com uma fantasia que pode pesar até 40 quilos sem perder a graça. Em “Portas-bandeiras”, Aydano começa contando a história de Dodô, porta-bandeira da Portela, em 1935, e termina com a história de Marcela, que estava trocando a Mangueira pelo Salgueiro. Também traz a história de duas porta-bandeiras da Mangueira, Neide e Lucinha. Neide morreu aos 39 anos com câncer de ovário. Mesmo doente, ela seguiu defendendo a Verde e Rosa. “As escolas de samba para o povo negro é drama, entrega, é a vida das pessoas”, avalia Aydano.
Jamil começa a biografia do maestro João Carlos Martins contando de uma fuga de Cuba. Reconstitui a história do maestro para mostrar como ele se tornou um gênio da música clássica. O título do livro foi inspirado em uma matéria do jornal New York Times. Indomável tanto do ponto de vista artístico quanto em relação ao próprio corpo. Um dos principais nomes da música clássica na década de 1960 e 1970 se vê diante de um problema. “Ele era indomável até mesmo para ele.” “O indomável” não é um livro laudatório. Jamil narra o episódio de envolvimento do maestro com um esquema de corrução no governo de Paulo Maluf.

Os jornalistas também contaram histórias divertidas sobre a maneira como o Brasil é visto no exterior. Jamil mora há 24 anos fora do Brasil, atualmente em Genebra. Ao fazer cobertura jornalística de um evento na Unesco, em Paris, Jamil acompanhou o discurso do secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, que atacava os artistas brasileiros.
Depois dele, o ministro da Suíça, que culturalmente costuma ter posicionamentos neutros, saiu em defesa da cultura brasileira. “Os artistas brasileiros são os maiores embaixadores que vocês têm no mundo”, disse o Suíço. Jamil também contou um episódio divertido em uma viagem a Kosovo, que foi salvo ao dizer que era brasileiro, porque queriam saber notícias da novela “Terra Nostra”.
Outro momento curioso foi vivenciado por Jamil na fronteira da Rússia quando um general duvidou que ele era brasileiro e fez um desafio. Só acreditaria que ele fosse brasileiro se adivinhasse qual escritor brasileiro estava pensando. Disse Jorge Amado e acertou em cheio. Nesse momento, Jamil brincou com Paloma Jorge Amado que estava na plateia.
Sobre o Flipetrópolis
A primeira edição do Flipetrópolis foi viabilizada pela Prefeitura de Petrópolis, o patrocínio do Grupo Águas do Brasil e o apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Todas as atividades realizadas dentro do Flipetrópolis são gratuitas. Com a curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinetti e Leandro Garcia, acontece entre os dias 1.º e 5 de maio de 2024, no Palácio de Cristal.
Serviço:
Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis
De 1.º a 5 de maio de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Palácio de Cristal – R. Alfredo Pachá, s/n – Centro, Petrópolis / Programação Digital – YouTube, Instagram e Facebook – @flipetropolis
www.flipetropolis.com.br
Entrada gratuita