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Míriam Leitão, Matheus Leitão e Ynaê Lopes dos Santos abordam as consequências do golpe militar no Brasil

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“Determinada história da ditadura militar no Brasil silencia a questão racial. como se a ditadura militar não tivesse violado os direitos e  sido extremamente violenta com a população negra no País.”  Ynaê Lopes dos Santos

“Minha coluna na Veja é diária. Às vezes, a gente se pega cansado pelas notícias ruins que a gente tem de comentar. Recentemente, teve aquela horrível dos 60 anos do Golpe, e o governo decidiu não fazer nada. Isso me feriu profundamente.”  Matheus Leitão

“Durante a ditadura militar, a violência contra o povo negro e o povo indígena foi muito grande; para fazer a Transamazônica, mataram povos indígenas. Não por acaso, o projeto era de um país branco, e eles perderam.” Míriam Leitão

Por Marcia Maria Cruz

Os jornalistas e escritores Míriam Leitão, Matheus Leitão e a historiadora Ynaê Lopes abordaram as consequências do golpe militar no Brasil na mesa do penúltimo dia do Festival Literário Internacional de Petrópolis, o Flipetrópolis. A mesa foi mediada pelo cientista político e curador do Festival, Sérgio Abranches. Todos concordaram que é fundamental desvendar os mitos e as mentiras ditas sobre a ditadura militar. “Determinada história da ditadura militar no Brasil silencia a questão racial, como se a ditadura militar não tivesse sido extremamente violenta com a população negra no país”, pontuou Ynaê.

Míriam fez inúmeras matérias jornalísticas sobre o período da ditadura militar, um compromisso que assumiu com a defesa da democracia do Brasil. E o tema também é central no romance de estreia da jornalista: “Tempos extremos”. A jornalista escreve  livros de não ficção a partir de técnicas de apuração, análise de dados, entrevistas a fontes. O fato de ser jornalista a colocou diante do desafio de escrever um livro de ficção.  A história se apresentou, bem como as personagens. Nesse livro, a jornalista aborda dois períodos de grande fratura no Brasil: a escravidão e a ditadura militar. Ela olhou para dois marcos determinantes: a descoberta do Cais do Valongo, em 2011, e a Comissão da Verdade, em 2012. 

Miriam descreve, no romance, um conflito insolúvel de uma família, irmãos que tinham posições políticas divergentes, um general e uma militante de esquerda. “Tempos extremos” foi lançado em 2014 quando a polarização política ainda não estava tão delineada no Brasil, o que dá à obra um caráter premonitório.

A forma como a história é contada e ensinada no Brasil é um problema na avaliação da Ynaê.  Ela critica a ideia de que o Brasil é um país sem conflito. “Isso é uma mentira do tamanho do Brasil. A história do Brasil é uma história de violência”, afirma. E não há como contar a história do Brasil sem entender como o racismo estrutura todas as relações.

Casos como de um homem negro morto por seguranças de um supermercado e dados que mostram que um jovem negro morre a cada minuto no Brasil demonstram o racismo no Brasil, mas para acabar com esse mal é necessário entender também o que está naturalizado, ou seja, as camadas que não ganham visibilidade. Tanto Ynaê quanto Míriam estabelecem uma relação entre a escravidão no Brasil e a ditadura militar, como os instrumentos de técnicas de tortura usados pelos militares que eram empregados na escravidão e o projeto de embranquecimento da população brasileira como política da ditadura militar.

Para escrever o livro “Em nome dos pais”, Matheus revelou que, ao escavar a história para entender o que ocorreu com os pais durante a ditadura militar, ficou diante de momentos penosos. O jornalista entrevistou o líder do Partido Comunista que, na época, delatou os pais para os militares. Para chegar até ele, Matheus empreendeu um longo trabalho de reportagem, conseguindo encontrá-lo a partir de uma compra de crediário.

O encontro com o delator dos pais fez com ele tivesse mais energia para seguir na busca para encontrar os torturadores. Um desses torturadores, que atuou na Casa da Morte em Petrópolis, vive na Região dos Lagos muito bem. O momento mais difícil para o jornalista foi o encontro com os torturadores dos pais.  “O torturador me enfrentou com empáfia muito grande”, lembrou Matheus. 

Foto: @alnereis

Miram ficou 40 anos em silêncio sobre o que tinha acontecido com ela na prisão. Estava grávida de sete meses quando foi interrogada no Sumário de culpa, momento em que os réus admitiam os crimes. Ela ficou em dúvida sobre se revelaria, mas optou por contar tudo que sofreu. O testemunho se tornou um registro histórico. No “‘Tempos extremos’, a filha pergunta à mãe como é ser torturada. A personagem responde que “sente uma enorme solidão”.

Matheus reforçou a importância de rever o que a ditadura militar fez aos negros e também aos povos indígenas. Ele lembrou que oficialmente são 434 desaparecidos políticos, que o Estado brasileiro não esclareceu como foram mortos e onde estão os seus corpos. No entanto, esse número é maior se forem incluídos os 8 mil indígenas que foram mortos no período.

O argumento foi reforçado por Míriam que ressaltou que, durante a ditadura militar, “a violência contra o povo negro e o povo indígena foi muito grande”. Não por acaso, o projeto era de um país branco, e eles perderam”. No fim do encontro, todos seguiram para os autógrafos.

Sobre o Flipetrópolis

A primeira edição do Flipetrópolis foi viabilizada pela Prefeitura de Petrópolis, o patrocínio do Grupo Águas do Brasil e o apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Todas as atividades realizadas dentro do Flipetrópolis são gratuitas. Com a curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinetti e Leandro Garcia, acontece entre os dias 1.º e 5 de maio de 2024, no Palácio de Cristal.

Serviço:

Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis
De 1.º a 5 de maio de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Palácio de Cristal – R. Alfredo Pachá, s/n – Centro, Petrópolis / Programação Digital – YouTube, Instagram e Facebook – @flipetropolis
www.flipetropolis.com.br
Entrada gratuita