“Trauma coletivo não tem direito ao esquecimento.” Gustavo Grandinetti
“A Inteligência artificial facilita a massificação da desinformação e da mentira.” Luís Roberto Barroso
Por Marcia Maria Cruz
O presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luís Roberto Barroso, estava inspirado nesta tarde de outono no Palácio de Cristal, no Flipetrópolis, onde participou de uma mesa com o desembargador Gustavo Grandinetti, conduzida pelo jornalista Sérgio Abranches.
Em uma fala descontraída na mesa de abertura do primeiro dia do Festival, o ministro compartilhou momentos divertidos como o fato de ser um leitor compulsivo e não estar mais lendo bula de remédio para não ficar sugestionado pelos sintomas. Também brincou com um episódio em um restaurante que o garçom, depois de algumas tentativas de identificá-lo, disse que enfim o havia reconhecido: “’Ahan! Luís Roberto, o locutor esportivo da TV Globo’. Então respondi. Não. ‘Eu sou o outro com uma vida, possivelmente, muito mais difícil’”, divertiu-se.
O ministro apresentou o livro de sua autoria “Sem data vênia: um olhar sobre o Brasil e o mundo” como um exercício de uma linguagem simples, sem uso de jargões e que reflete sobre as principais questões da contemporaneidade. A obra lança um olhar sobre o Brasil, política, costumes, direitos e economia e trata de temas como interrupção de gestação, drogas e racismo. O ministro sintetizou a obra como um exercício de refletir sobre o que é bom para fazer um país melhor.
Barroso falou dos riscos de interpretações literais e contou alguns casos para exemplificar. Também criticou a falta de flexibilidade. A plateia foi ao êxtase quando Barroso contou que na festa de casamento da filha, que foi realizada em setembro do ano passado, a ministra Rosa Weber estava partindo da comemoração sem provar um “docinho”. A atendente do buffet não a serviu por não estar no momento correto. Barroso tentou intervir, mas mesmo depois de ele falar quem ela era, na época a presidente do Supremo Tribunal Federal. “’Não está na hora’”. “Eu sou pai da noiva”. “Não muda nada”. “Então peguei os dois docinhos”, revelou.
Também destacou que o País passa por um momento delicado para a liberdade de expressão. O ministro ponderou os aspectos positivos e negativos da revolução digital, que, por um lado, universalizou os computadores e trouxe a democratização do acesso à informação e do conhecimento; mas, por outro lado, fragilizou as informações que chegam à esfera pública. A revolução digital abre avenidas da desinformação e para disseminação do discurso do ódio.
O desembargador e professor Gustavo Grandinetti, um dos curadores do Flipetrópolis, lembrou que o seu livro “Romances no trem da história”, como um romance histórico, permite ao leitor ter contato com o passado e exercite a memória. A memória foi o tema central de sua palestra. Aristóteles, conforme citou, defendia que a memória está na alma, onde estão os sentimentos, a saudade e o trauma.
Com referência à psicanálise, Gustavo destacou a importância de tratar o trauma coletivo e que o tratamento do trauma coletivo é a verdade. “O dever da verdade surge para prestar homenagem aos que nos antecederam. Aos mortos, aos desaparecidos… a eles devemos a verdade. No nível coletivo, é preciso exercitar a memória. Gustavo defendeu que, a exemplo do que Portugal faz com a Revolução dos Cravos, o Brasil deveria comemorar os 40 anos das Diretas Já. Gustavo destacou que a Revolução dos Cravos tirou Portugal do atraso e o livrou do fascismo.
Em sua fala, Luís Barroso também abordou a importância da memória e lembrou como na juventude inferiu que o jornalista Vladimir Herzog, diferentemente da versão dada pela ditadura, não havia suicidado, mas foi torturado até a morte. Barroso ainda disse que prestará atenção na capa do livro de Gustavo que traz uma foto das manifestações pelas Diretas Já na Candelária. Na época professor, Barroso levou turma de alunos até a Candelária para protestar.
Sobre o Flipetrópolis
A primeira edição do Flipetrópolis foi viabilizada pela Prefeitura de Petrópolis, com o patrocínio do Grupo Águas do Brasil e o apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Todas as atividades realizadas dentro do Flipetrópolis são gratuitas. Com a curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinetti e Leandro Garcia, acontece entre os dias 1.º e 5 de maio de 2024, no Palácio de Cristal.
Serviço:
Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis
De 1.º a 5 de maio de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Palácio de Cristal – R. Alfredo Pachá, s/n – Centro, Petrópolis / Programação Digital – YouTube, Instagram e Facebook – @flipetropolis
www.flipetropolis.com.br
Entrada gratuita