“Estamos no caminho de reconhecimento de personagens negras que tiveram uma importância e contribuição signifcativas na história do Brasil.” Ynaê Lopes dos Santos
Por Daniel Xavier
A maior autoridade científica do Brasil. É assim que a escritora e doutora em história social pela USP, Ynaê Lopes dos Santos, descreve o médico psiquiatra brasileiro Juliano Moreira, patrono do Flipetrópolis. Considerado o primeiro a introduzir Freud no País, o médico revolucionou o tratamento das doenças mentais no Brasil, a abordagem sobre a sífilis e desafiou o racismo científico, que predominava à época em que ele viveu. Como homem negro, questionou veementemente o conceito de “raças humanas”, que colocava a população branca como superior.
“Fico feliz que o primeiro Festival Literário Internacional de Petrópolis tenha o Juliano Moreira como patrono. Mostra que estamos no caminho do reconhecimento de personagens negras que tiveram uma importância e contribuição signifcativas na história do Brasil, durante o momento em que viveram, mas não foram destacados na história oficial – que, no fim, é oficiosa”, declara Ynaê.
Durante o painel, o autor Leandro Garcia, presidente da Academia Petropolitana de Letras (APL) e um dos curadores do Flipetrópolis, ressaltou o vínculo de Moreira com a Cidade Imperial durante a mediação da conversa.
“O Juliano transformou o cuidado que era dado aos homens e mulheres que eram internados no Hospício Nacional, na capital fluminense. E ele veio a Petrópolis, nos últimos três anos da vida dele, onde se internou no antigo sanatório de Corrêas, por conta da tuberculose que tratava. Ele morreu aqui, inclusive. Então, creio que honrar o trabalho dele no Festival é uma forma de dar continuidade à sua memória”, disse.
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Trajetória
Tutelado pelo patrão, que era o médico mais importante de Salvador, depois que a mãe morreu, Juliano Moreira passou pela escola formal, algo incomum para pessoas negras à época. Aos 14 anos, entrou na Faculdade de Medicina da Bahia. Sua tese de formatura ganhou repercussão internacional por propor novas abordagens sobre a sífilis – uma das doenças que mais matavam no fim do século XIX.
No meio tempo, muda de campo e vai para a psiquiatria. Ao se especializar na área, foi convidado para administrar o Hospício Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Lá, rebateu as teses de que a mestiçagem seria a causa das doenças mentais e de que a humanidade era estruturada por raças, em que havia condições genéticas e comportamentais distintas entre brancos, pretos e amarelos – usada como motivo para a colonização.
“Um homem negro que está olhando para a questão da saúde mental. Juliano ocupou um lugar muito singular. Como médico, fazia parte do grupo que definia as políticas públicas do País. Ele deu início ao conceito de tratamento humanizado ao retirar as grades das janelas e o uso da camisa de força no Sanatório. E foi ele quem ilustrou, cientificamente, que pessoas pretas não são geneticamente condicionadas ao alcoolismo, mas que a condição é resultado de diversas exclusões”, sintetiza Ynaê.
Sobre o Flipetrópolis
A primeira edição do Flipetrópolis foi viabilizada pela Prefeitura de Petrópolis, o patrocínio do Grupo Águas do Brasil e o apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Todas as atividades realizadas dentro do Flipetrópolis são gratuitas. Com a curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinetti e Leandro Garcia, acontece entre os dias 1.º e 5 de maio de 2024, no Palácio de Cristal.
Serviço:
Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis
De 1.º a 5 de maio de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Palácio de Cristal – R. Alfredo Pachá, s/n – Centro, Petrópolis / Programação Digital – YouTube, Instagram e Facebook – @flipetropolis
www.flipetropolis.com.br
Entrada gratuita