“Mesmo numa situação dramática, a busca por dignidade é permanente.” Jamil Chade
Por Henrique Magini
Os escritores e jornalistas Jamil Chade e Patrícia Espírito Santo contaram sobre suas vivências em campos de refugiados, durante uma mesa que dividiram neste sábado (4/5), no Flipetrópolis.
Patrícia contou que sempre teve “vontade de conhecer uma África não turística, a África dos Médicos Sem Fronteiras.” Por trabalhar com moda, começou a produzir roupas para contribuir com serviços sociais. Foi aí que conheceu a ONG Fraternidade Sem Fronteiras. A organização realizava caravanas para países da África e ela se inscreveu em uma caravana de saúde para o Malawi. País que ela mesma afirmou que “pouco sabia, só sabia que o filho da Madonna tinha sido adotado lá”.
Em conjunto com a coordenadora da caravana, Patrícia conseguiu levar máquinas de costura para montar uma oficina no campo de refugiados de Dzaleka, próximo à capital, Lilongwe. Foi aí que surgiu a ideia do livro “Há um lugar para mim na casa do meu pai”, contando as histórias dos refugiados nesse campo, que conta com 55 mil pessoas.
Para explicar o que é um campo de refugiados, Patrícia disse que “é um lugar com pessoas que fugiram de seus países por causa de perseguição”, sejam elas políticas, étnicas, territoriais, sejam por orientações sexuais. “Os genocídios ainda estão em curso em vários lugares, em vários pontos da África nesse momento”, lembrou Patrícia Espírito Santo.
Ainda sobre campo de refugiados, Patrícia explicou que “é um lugar que não tem lixo, não tem lixão, não tem cesto de lixo. Porque o lixo só existe onde há consumo. Onde não há consumo, não há o que jogar fora”. E completou dizendo que tudo o que existe em um campo de refugiados é reaproveitado.
Jamil Chade contou que, fazendo uma viagem para identificar o pior lugar do mundo entre a Etiópia e a Eritreia, parou em Dadaab, no Quênia, que tem 500 mil habitantes. Ao perguntar se existiria um “centro” da cidade, foi informado que existia, e que a avenida até lá leva o nome de Champs-Élysées, denominado por Jamil de “o local do sonho, onde se planeja a saída do campo”.
Ele fez uma comparação crítica sobre as diferenças de tratamento de refugiados. “Não é desmerecer a dor do refugiado ucraniano, mas eu vi que, quando os ucranianos foram vítimas de uma guerra, eles foram recebidos nas fronteiras da Europa. As crianças com ursinhos de pelúcia, com chocolate, com café quente. Ótimo, espetacular! Mas e os outros que vêm já há décadas, todos os dias, tentando cruzar as fronteiras para chegar à Europa? Porque a bomba é a mesma”, completou.
Confirmando a crítica, Patrícia afirmou que a Acnur, Agência de Refugiados da ONU, trata de formas diferentes a mesma situação. “A Acnur, junto ao exército brasileiro, ajuda os refugiados venezuelanos a conseguirem emprego e lá no Malawi não, o que eles recebem é uma lona para colocar na casa que um dia eles possam vir a ter”.
Encerrando a sua participação, Patrícia contou que os jovens que estão nesses campos sonham em sair, mas existe muita dificuldade para conseguirem isso. E deu um spoiler do próximo projeto que terá o foco no sul de Madagascar, região que sofre por não ter água. Ela busca resposta para a pergunta: “Como uma família de 10, 15 pessoas, consegue sobreviver dividindo dois litros de água durante uma semana?” Sendo assim, o próximo livro tentará trazer essa resposta.
Sobre o Flipetrópolis
A primeira edição do Flipetrópolis foi viabilizada pela Prefeitura de Petrópolis, o patrocínio do Grupo Águas do Brasil e o apoio cultural do Itaú e da GE Aerospace, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura. Todas as atividades realizadas dentro do Flipetrópolis são gratuitas. Com a curadoria de Afonso Borges, Sérgio Abranches, Tom Farias, Gustavo Grandinetti e Leandro Garcia, acontece entre os dias 1.º e 5 de maio de 2024, no Palácio de Cristal.
Serviço:
Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis
De 1.º a 5 de maio de 2024, de quarta-feira a domingo
Local: Palácio de Cristal – R. Alfredo Pachá, s/n – Centro, Petrópolis / Programação Digital – YouTube, Instagram e Facebook – @flipetropolis
www.flipetropolis.com.br
Entrada gratuita