O mundo da literatura e do debate cultural é uma arena na qual vozes diversas e autênticas devem ecoar para enriquecer as discussões e ampliar os horizontes. Motivados pela comemoração dos 120 anos de nascimento de Candido Portinari, o Sesc SP e o Fliparacatu apresentam o inédito Ciclo de Debates Virtuais “Portinari Negro – 12 x 120 Anos”, no qual 12 especialistas negros vão discutir, entre outros assuntos, a questão da identidade do pintor de “O Mestiço”. Essa programação especial surge como um marco significativo, rompendo com padrões estabelecidos e trazendo à luz a importância da representatividade e inclusão no âmbito das feiras literárias.

O ciclo de debates Portinari Negro se destaca por sua abordagem inovadora e transformadora. Enquanto muitos eventos anteriormente focaram suas atenções apenas em figuras já renomadas, que conseguiram superar inúmeras barreiras para alcançar destaque, este ciclo quebra essa tendência. Pela primeira vez, a atenção é direcionada para doze indivíduos talentosos, capazes, trabalhadores, e, acima de tudo, negros, que permaneceram invisíveis na sociedade por muito tempo.

Celebrando a diversidade e a representatividade nas artes

A realidade é que a visibilidade e as oportunidades muitas vezes têm sido negadas a indivíduos talentosos e promissores que ainda não tiveram a chance de se destacar. A sociedade frequentemente focaliza os que já alcançaram o sucesso, esquecendo-se da vasta reserva de talento que permanece subexplorada. O ciclo Portinari Negro corrige essa desigualdade, oferecendo a oportunidade para essas vozes negras emergentes brilharem.

A referência ao legado de Candido Portinari, um artista que focou em suas obras as pessoas marginalizadas e segregadas da sociedade, traz à tona a importância de dar voz àqueles que muitas vezes são ignorados. A seleção de doze participantes negros, cada um representando uma década, é uma homenagem inteligente e simbólica, destacando a riqueza da diversidade ao longo do tempo e sua contribuição para a cultura e o conhecimento.

Ampliando o Foco

Todos os debates, mediados pelo curador do Fliparacatu Tom Farias, irão ao ar durante o evento, bem como nos canais do YouTube do Fliparacatu e do Sesc CPF, conforme cronograma abaixo:

  • “Portinari Negro e o Protagonismo Negro no Passado e no Presente”, com Bianca Sartes

Em 2022, o reconhecimento como Artista Visual e a idealização do Projeto Povoada são provas tangíveis do impacto que Bianca Sartes está tendo em sua comunidade e além. Sua jornada é um testemunho do poder da arte para unir, capacitar e inspirar mudanças positivas. Através de suas expressões artísticas e compromisso com a educação, ela reforça a ideia de que a arte é uma voz poderosa que ecoa nas mentes e corações de todos os que a encontram.

Enquanto idealizadora do Projeto Povoada, cujo intuito é promover a conscientização social por meio da arte e da escrita, Bianca Sartes é capaz de adentrar o mundo artístico para explicar o como houve – e ainda há – o protagonismo negro nas obras de Candido Portinari. Indo além, a arteeducadora consegue contextualizar o período em que tais obras foram apresentadas ao mundo, de modo que se faz possível analisar as consequências sociais que as obras de Portinari que colocavam o indivíduo negro em evidência tiveram.

 

  • “Portinari Negro: Reflexões sobre Mudanças na Percepção dos Afrodescendentes desde ‘O Mestiço’ até Hoje”, com Ianna Fletcher

No universo da literatura e da pesquisa, Ianna emerge como uma luz brilhante, uma autora e pesquisadora autodidata cuja trajetória é repleta de conquistas notáveis e contribuições significativas para a cultura e a educação. Sua presença reverbera além das páginas de seus escritos, tocando vidas e transcendendo fronteiras geográficas.

“O Mestiço” é uma das obras mais icônicas de Candido Portinari, e ilustra a diversidade racial e cultural do povo brasileiro. Ademais, também questiona e desafia os estereótipos e preconceitos existentes. Diante disso, Ianna Fletcher convida o público à reflexão sobre identidade, representatividade e inclusão para investigar as mudanças pelas quais o Brasil passou desde a concepção de “O Mestiço” até os dias atuais.

 

  • “Portinari e a luta contra o racismo, como suas pinturas contribuíram para a conscientização racial”, com Ricardo Fernandes

O processo miscigenatório do Brasil sempre foi nítido, desde seu princípio. Por meio da arte, Portinari retratou as diferentes faces – literal e figurativamente – do povo brasileiro. Tamanha pluralidade de rostos em seus trabalhos mostrou o(s) retrato(s) do(s) Brasil(is), de modo a atuar diretamente com conscientização racial. Quem somos? Quais nossas verdadeiras raízes?

Como fundador e Diretor do Instituto Arteiros, o compromisso de Ricardo não se limita às crianças; ele estende sua influência para jovens e adultos também. Através de aulas de teatro, dança e música, como o hip hop, ele proporciona uma plataforma onde a auto expressão e a criatividade podem florescer. Seu trabalho demonstra que as artes não são apenas entretenimento, mas um veículo poderoso para o crescimento pessoal e a construção de habilidades.

 

  • “A construção da identidade Negra e o folclore brasileiro nas obras de Portinari”, com Amauri Albino

Sua trajetória é uma inspiração para jovens aspirantes a escritores, especialmente aqueles que vêm de comunidades sub-representadas. Amauri demonstra que as vozes que emergem desses locais muitas vezes negligenciados têm um poder autêntico e universal. Ele não apenas compartilha histórias, mas também constrói uma ponte para a compreensão mútua, quebrando barreiras de preconceito e ignorância.

Retratar indivíduos negros autenticamente, como retratou Portinari, é um meio de impactar a autoestima e o orgulho da comunidade negra de várias maneiras. A identificação é a principal e, talvez, a mais importante delas. Sua ampla representatividade nas obras de Portinari podem ser apropriadas para construir um senso de pertencimento na comunidade negra.

 

  • “Portinari Negro e os estereótipos, como o artista desafiou as representações negativas na arte”, com Arvore

A jornada de Árvore é profundamente marcada por sua dedicação à arte educação, especialmente na capacidade de ajudar as pessoas a se comunicarem e se expressarem através da língua de sinais. Árvore é uma força de natureza que enraíza a educação, a arte e a expressão em uma única trajetória inspiradora. Sua abordagem inclusiva e apaixonada transforma cada ato em uma lição de empoderamento e capacitação, lembrando-nos de que todos merecem ter sua voz ouvida e celebrada.

Desafiando estigmas e representações negativas na arte ao retratar trabalhadores rurais e pessoas negras com suas devidas dignidades e humanidades, Portinari foi, à sua época, transgressor.  Isso porque rompeu com estereótipos e a marginalização, ao dar voz e visibilidade a esses grupos, destacando suas lutas e resistência. Portinari contribuiu para uma imagem mais justa e inclusiva da sociedade brasileira, refletindo criticamente sobre desigualdades e, diante disso, valorizando a dignidade dos marginalizados.

 

  • “Portinari Negro e o carnaval: A valorização do negro nas Escolas de Samba”, com Patrícia Pagu  

Patrícia “Pagu”  é uma força transformadora que utiliza sua influência em uma variedade de campos para capacitar os marginalizados, preencher lacunas e construir pontes. Sua jornada é uma jornada de compromisso, inclusão e mudança positiva, inspirando outros a usarem suas habilidades e paixões para criar um impacto significativo.

 

  • “Portinari para o povo brasileiro: exposições que democratizam o patrimônio privado”, com Rodrigo Gonzaga

Rodrigo Gonzaga é um farol de esperança para um mundo mais inclusivo e consciente é sua paixão pela preservação e difusão da arte e do patrimônio cultural afro-brasileiro que define sua jornada. Rodrigo vai além da mera curadoria de exposições; ele traz uma perspectiva afroindígena que desafia narrativas estereotipadas e contribui para o enfrentamento do racismo nos museus. Sua abordagem amplifica vozes e histórias muitas vezes marginalizadas, criando um espaço para a representação e reconhecimento adequado.

 

  • “O papel da arte de Portinari na promoção da igualdade racial: Desafios e avanços na sociedade contemporânea”, com Bruno Almeida

Bruno Almeida emerge como uma figura multifacetada, enriquecendo o cenário da educação, história local e preservação do patrimônio cultural. Com uma sólida base como historiador e professor, ele tece uma teia de conhecimento que conecta passado e presente, enquanto preserva a riqueza da herança cultural.

Quais heranças Portinari deixou a partir de seus trabalhos? O historiador Bruno Almeida busca dar uma resposta a essa questão que, nos dias atuais, pode gerar hipóteses de indivíduos de diversos contextos geracionais. Ultrapassando a questão artística, é possível abordar essa questão a partir de questões sociais, como ao fazer uma comparação entre o aqui e o outrora. Quais mudanças sociais podem ser identificadas entre a época de Portinari e o momento atual?

 

  • “Da Representatividade do Portinari Negro ao Museu do Graffiti e a Influência Nas Quebradas”, com Fael Tujaviu

Fael Tujaviu é um catalisador da cultura urbana, entrelaçando grafite e rap. Além de suas contribuições artísticas, Fael é também um empreendedor cultural e coordenador de projetos culturais no Museu do Graffiti. Como fundador da Escola Carioca de Graffiti, ele compartilha seu conhecimento e paixão com a próxima geração de artistas, perpetuando a tradição do grafite como uma forma de expressão legítima e impactante.

 

  • “A Democratização da Arte Urbana, a visão de uma Artista sob a Influência de Portinari”, com Malu Vibe

Através da arte do grafite focada em cidadania, ela transforma espaços urbanos em telas de expressão criativa e social. Sua arte vai além da estética, carregando mensagens de empoderamento, reflexão e mudança. Como integrante do coletivo Angoleiras Pretas, composto exclusivamente por mulheres negras capoeiristas, Malu Vibe amplifica a presença e o poder dessas vozes em uma tradição histórica reforçando o papel das mulheres negras na preservação dessas tradições.

 

  • “Portinari Negro e o Empoderamento do Cabelo Afro na Arte de Portinari”, com Gabriela Azevedo

No vibrante cenário cultural do Rio de Janeiro, Gabriela Azevedo, com seus 36 anos de vida, brilha como uma trancista, poeta, articuladora cultural e mãe dedicada. Sua jornada é uma fusão harmoniosa de criatividade, ativismo cultural e maternidade, tudo enraizado no desejo de compartilhar e celebrar a riqueza da Cultura Afro Brasileira.

Em várias de suas pinturas, ao retratar personagens negros, Portinari os pinta com cabelos afro volumosos e texturizados. Essas representações contrastam com a idealização estética eurocêntrica que dominava a época, desafiando os padrões impostos pela sociedade. Enquanto trancista, Gabriela Azevedo promove reflexões ao abordar a apresentação artística de mulheres negras com seus cabelos naturais, sinalizando, assim, a valorização da beleza e da individualidade negra.

 

  • “Portinari Negro e a Música na Cultura Afro-Brasileira”, com Maria Angélica Ventura Ferreira

Angélica Ventura é uma artista e educadora que conecta identidade, educação e música para criar uma voz autêntica e impactante. Sua conexão com suas raízes africanas é evidente em sua música, que celebra o samba e o choro. Sua jornada é uma prova da capacidade de utilizar paixões para educar e inspirar, demonstrando que a educação e a arte podem andar de mãos dadas, enriquecendo a vida das pessoas e construindo pontes entre culturas e experiências.

A música se apresenta como elemento visual de algumas obras de Portinari, como ao retratar bandas de música, instrumentistas e rodas de chorinho. Percebe-se que houve um reconhecimento por parte do pintor da música como uma forma de expressão cultural socialmente significativa, e suas pinturas refletem essa valorização, retratando a onipresença e a influência da música na vida das pessoas e na história e na cultura nacional.

Um Chamado à Reflexão e à Ação na Fliparacatu 2023

O ciclo Portinari Negro é uma chance de construir uma ponte entre o passado e o presente, reconhecendo aqueles que foram invisíveis e celebrando sua resiliência e talento. Ele não apenas enriquece o cenário literário, mas também reforça a necessidade contínua de promover a igualdade de oportunidades e a representatividade em todas as esferas da sociedade.

Na Fliparacatu, esse ciclo de palestras não é apenas um evento, mas um passo importante para a criação de uma mudança duradoura e significativa. Ele nos lembra que, ao dar espaço para uma variedade de vozes, podemos enriquecer nosso entendimento do mundo e criar um futuro mais inclusivo e justo. O Portinari Negro é um testemunho do poder transformador da arte, cultura e literatura quando usados como ferramentas para ampliar a visibilidade e elevar vozes outrora silenciadas.

A realização deste ciclo de debates sobre os temas relacionados à obra de Portinari, em especial o impacto de seu trabalho no para o protagonismo negro, em sua época e na atualidade, é de extrema importância para promover a reflexão e o entendimento sobre a contribuição do artista para a luta pela igualdade racial.  Por meio desses debates, poderão ser analisadas como as obras de Portinari abriram caminho para a representatividade e a visibilidade da população negra na arte, rompendo com os estereótipos e promovendo a valorização da cultura e da identidade negra. Além disso, poderemos discutir como esse legado artístico tem impactado as lutas sociais e políticas no presente, inspirando e fortalecendo o protagonismo negro na sociedade.

O Festival Literário Internacional de Paracatu é patrocinado pela Kinross, via Lei Rouanet, e com o apoio da Prefeitura Municipal de Paracatu, da Paróquia de Santo Antônio e do Projeto Portinari. Com a curadoria de Tom Farias, Sérgio Abranches e Afonso Borges, acontece entre os dias 23 e 27 de agosto de 2023, no Centro Histórico da cidade.

Serviço:

Festival Literário de Paracatu – Fliparacatu

De 23 a 27 de agosto, quarta-feira a domingo

Local: Programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @‌fliparacatu

Entrada gratuita

Informações para a imprensa:

imprensa@fliparacatu.com.br

Jozane Faleiro  – 31 992046367/ Letícia Finamore – 31 982522002